Terça feira, ao chegar em casa e poder entrar sem
precisar colocar as chaves na fechadura e apesar do sol do meio dia e não me recordar de
ter esquecido, ver as luzes acesas; tudo revirado, algumas coisas
quebradas, outras faltando e, no seu canto, o suporte do violão trazia o tom
desafinado da ausência do seu ocupante.
A adrenalina nas alturas me empurra instintivamente em direção aos cômodos na busca de uma explicação que não seja aquela que ali se desenha: Arrombamento,
invasão e roubo!
Após o impacto da “surpresa”, a revolta e a
sensação de impotência me traz de volta ao mundo real. O mundo, onde ter que
trabalhar, ser correto e pagar em dia as contas, é ser o otário. Enquanto, aquele
que vive à margem da sociedade, desrespeita o espaço do outro, invade,
barbariza, rouba e até mata, muitas vezes se acha injustiçado, o "coitadinho" e
sempre encontra alguém (Estado, instituições, ONG’s) que o defenda, é o “esperto”.
E o pior, é achar que, “ainda bem, dos males o
menor”, e apesar de ter sido virado do avesso, ferido intimamente, estou vivo. Respirei
fundo e contei meus anos. Descobri que terei menos tempo para viver daqui para
frente do que já vivi até agora.
Já não tenho tempo para administrar melindres de
pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos. Já não tenho tempo para
lidar com mediocridades. Já não tenho tempo para projetos ideológicos. Já não tenho tempo para aceitar que esses
acontecimentos fazem parte da vida. Já não tenho tempo para intermináveis discussões sobre estatutos, normas, procedimentos e regimentos, em defesa daqueles ou
desses “coitadinhos”.
Diante do acontecido, vejo que meu tempo é escasso
para rótulos. Direitos (humanos?) dos “pobrezinhos” que, após cometerem esse
tipo de crime se "arrependem" e reclamam que não encontram respaldo social? Daqueles que “pagaram”
suas penas e mesmo assim ficam rotulados como criminosos (bandidos)? Quanta injustiça!?!?
Já não tenho tempo para ficar pensando ou explicando
se estou ou não perdendo a fé, por não falar, nessas horas, dos escritos bíblicos,
crenças e leis. Porque prefiro a poesia do Chico Buarque, Vinicius de Moraes e
do Neruda; a voz de Maria Bethânia; os livros de Machado de Assis, Guimarães
Rosa, José Lins do Rego e José Saramago.
Nessas horas, bate a raiva e meu desabafo pode ser ácido, porém
realista, a fim de evitar essa anestesia diante das barbáries desses covardes.
E que parem com essa balela de que tudo é devido ás desigualdades e falta de
oportunidades.
Os que invadiram e roubaram minha casa estavam motorizados, bem
preparados, com “conhecimento” para saber, além da minha rotina, o
que buscavam, fortes (bem alimentados) o suficiente para arrombar as fechaduras
e carregar o que queriam. E agora regozijam, quem sabe nas cordas do violão, o grande êxito.
Mário de Andrade afirmou: “As pessoas não debatem
conteúdos, apenas os rótulos”. E essa é a sociedade onde os valores estão
distorcidos. Até quando? Basta!
ecobueno15