quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Das Cores
















Dizem que belos, são os louros
Mas isso torna-se um fio vão
Ao contrastar tais melenas
Com esses castanho-sinceros
Que em ti, não cabe comparação

Dizem do belo azul infinito
Que não é deveras único
Pois tem o preto, o verde mar
E tantas outras cores do globo
Que contem o branco do olhar

Dizem do brilho estelar
Que nas noites de luar existe
Mas a magia também insiste
Nessas luzes diárias, prisma
Que decanta sua alma

Dizem da beleza que na tez explode
Revelando lindos traços, audaz
Que num belo dia tornar-se-á fugaz
Mas os teus revelar-se-ão, perene
Quando o tempo riscar a face

Ecobueno13


quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Um Dia Um Adeus


Fevereiro de 1988, o verão em dias quentes e abafados, ardia. As marchinhas, os sambas enredo, a celeuma das expectativas traziam a atmosfera de um grito que há doze meses esperava para ecoar: o carnaval!
Mas nem todos viviam tal momento. Não era por preceitos culturais, religiosos ou por simples indiferença. Era por um motivo que ninguém quer passar, mas que inevitavelmente terá que enfrentar um dia.
Ela, uma mulher simples que mal assinava seu nome, mas com dedicação e sacrifício conseguiu educar seus três filhos. A sua maneira, deu-lhes a dignidade de viver com hombridade. Sua maior preocupação era que pudessem ter uma vida melhor e digna. Mesmo em meio as adversidades foi capaz de ensinar a sorrir e ter fé no amanhã. Quanta força!

Mas apesar dessa força aliada a muita espiritualidade, não foi capaz de se livrar de um vício que a dominava, e apesar de seu efeito devastador é  encarado como se fosse mais um dos prazeres da vida, o álcool! Há alguns anos vinha sofrendo com internações constantes que além de maltratar a carne, minavam aos poucos sua alegria e a esperança.
Como eram difíceis seus dias quando tomada de lucidez se via sucumbida pelo flagelo do vício. Suas lágrimas rolavam, quem sabe por se culpar por uma suposta fraqueza. Não sabia, mas aquilo não era uma simples fraqueza e sim uma patologia que depois de avançada, tomava o corpo, minava os órgãos e lentamente corroía a alma.

Havia momentos que se via impotente às reações de um corpo que sofre de abstinência. Por ser dependente, a falta do álcool na corrente sanguínea levava seu organismo a um estado sofrível caracterizado por falta de ar, aumento da frequência cardíaca, suor excessivo, entre outras coisas. O pior era que sua mente, que muitas vezes ficava confusa, entrava em colapso, o que acarretava em alucinações e visões, que jurava serem reais.
Essas alucinações eram desconcertantes. Via aranhas no teto, ratos gigantes e outros seres apavorantes. Em seu rosto, feições de medo e angustia revelavam a incrível capacidade da mente humana em criar fantasmas que se tornam realidade. E os piores monstros, os quais não é possível fugir ou ignorá-los, não são externos e sim internos. Então achava que a única saída era tomar mais uma dose, sem perceber que o alivio momentâneo só alimentava o circulo vicioso.

Num fatídico dia, após mais uma das muitas internações,  o mais duro dos golpes marcaria e, de certa forma, mudaria os rumos. Uma viatura vermelho e preto, parou em frente ao portão de casa, era a polícia. Numa mistura de aflição e medo fez com que a adrenalina subisse e confundisse os pensamentos. A única reação foi de não ter reação alguma. Ao ouvir a notícia de que ela jamais voltaria para casa, os olhos marejaram e antecipando a quarta de cinzas. Minha mãe, nesse dia partia, sem fantasias, do carnaval da vida.
Ps.  Vinte e cinco anos depois consegui escrever sobre uma despedida que não tive. Mesmo assim sentindo como se fosse hoje a dor da ferida do meu primeiro adeus, só me resta a solidão.
Ecobueno13

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

A Cor: Libido!

  O carmim
  Da sua pele
  Dentro, assim
  Libido, insere

  No rubro da face
  Lábios vermelhos
  Molhados, estremece
  Na sua nuca, recostados

  O ébano dos pêlos
  Sedosos, roçando, acariciando
  Todos seus poros
  Invadem olores, infindos

  O róseo enegrecido, perfume
  Receios, anseios, seus seios
  Os dedos tocam
  Seus desejos, despertam

  O carmim, sem fim
  O rubro, paixão enfim
  O ébano, enigma
  O róseo-enegrecido, vida!

  Ecobueno

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Fome, Soneto do Flagelo



A Fome aniquila lentamente
A paz, o amor e a crença
Se forma e se transforma em ofensa
Triste realidade, dizima gente

Revolta e traz o ardor da amargura
Faz do afeto, mera lembrança
Resseca o peito e flagela a infância
Endurece a alma e faz perder a ternura 

Não existe nada nesse cenário
Palavras, sonhos, rezas, pensamentos
Que alivie a crueza desse escárnio

O que trará alento ao sofrimento
Não são dogmas, tão pouco fundamentos
É o essencial à vida: O alimento!



Ecobueno13


sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Antítese Perfeita, Mãe


Para quem as tem, diga sempre:













Quão fundamentais, intrigantes podem ser
Ao mesmo tempo doces, frágeis, amáveis
Decididas, altivas, fortes, emblemáticas
São assim, da concepção à multiplicação

Quando concebidas: pequenas, angelicais
Vão crescendo, sonhadoras, plurais
Em formação, tão belas, inquietantes
Alçam voos panorâmicos, deslumbrantes

Ampliam horizontes, verdadeiras, habituais
Nesse afã são sempre mais; essenciais
Outrora vestais, hoje donas da vida, conceituais
Acolhem em si o feto, num amplexo de afeto

E no ventre fecundo, o amor incondicional
Revelando a metade inteira desse dom divinal
Nessa jornada intrínseca e singular, contrapõe
Ser único e múltiplo, mulher e MÃE !

Ecobueno