terça-feira, 29 de setembro de 2015

Agenda Cultural - Lenine - Carbono



Carbono, um mesmo elemento químico que pode originar substâncias diferentes. Tem sua importância para a formação da vida na Terra e sua variada forma de organização no universo. É isso que nos apresenta Lenine em seu novo disco de mesmo nome.
Primeiro domingo da primavera, último do mês de setembro, nada mais apropriado que assistir, ao vivo, no Auditório Oscar Niemeyer no parque Ibirapuera, plateia externa, com a OCAM - Orquestra de Câmara da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo - que comemora seus 20 anos de atividades, e convida o recifense Lenine para desfilara suas canções, num show conjunto.
A manhã de domingo, após um sábado chuvoso, se abriu para reverenciar o espetáculo. Os vários elementos – músicos e seus instrumentos – da OCAM, dão inicio ao espetáculo com a “Sinfonietta Nº 1”, de Villa-Lobos e vai quebrando a apatia daqueles que ainda se ressentiam por ter acordado cedo.
Em seguida Lenine se junta aos músicos e começa a desfilar suas composições. Canções sutis e ricas em poesia, numa mistura lírica que remete ao esperançoso, inconformado e às vezes, enraivecido. O repertório é a união dos sentimentos e os elementos, Carbono.
Com seu violão e riff’s característicos, arranjos do maestro Gil Jardim, Lenine vai cantando e encantando com “Castanho” avisando que: não, não cheguei sozinho, e emenda com “O Impossível Vem Pra Ficar”: Transformar, seu lugar/ Seu olhar. Em “Simples Assim” destila seu eufemismo característico, contra a arrogância da complicação, Querer não é questão/ Não justifica o fim/ Pra quê complicação/ É simples assim. Segue em “Cupim de Ferro”, em que traz a reflexão: A vida reverbera/O tempo imortaliza/ A dor é passageira.
Lenine segue com seu rico repertório, e mostra que não é um musico de canções melosas de amor, mesmo quando fala de um sentimento delicado, não cai no lugar comum, isso está claro em “Grafite Diamante”, onde mostra toda sua intimidade com as palavras, Muda-se a crença:/A gente se junta/ E dança na diferença. Indo no mesmo embalo, “O Universo Na Cabeça do Alfinete”, complementa: Parado e ainda assim ligeiro/ Inteiro e ainda assim partido/ Doído e ainda assim contente/ Descrente e ainda assim feliz. E a sua singularidade ao destacar certos os traços está presente desde Labiata 2008, na canção “Magra”: ... E sonho que é minha/Magra, leve, calma/ Toda ela bela/Tudo nela chama. Assim Lenine vai reconstruindo seus elementos e compondo o show e me trazendo boas recordações.
Mas como certas canções já tomaram vida própria, Lenine tem que revisitar seus grandes sucessos, mesmo sendo na apresentação de um novo trabalho. Ele com sua simpatia recifense deixa que “Hoje Eu Quero Sair Só”, “Jack Soul Brasileiro” “Martelo Bigorna”, “Chão”, “Do It”, ressoem livre por todo o parque.
Distante das luzes artificiais, palco-cenário, mixagens e afins, Lenine junto com a OCAM nos presenteia com um show verdadeiro, de quem conhece e domina o que faz. Muito bom para um publico que gosta de sentir a brisa e ouvir boa musica. Que venha a primavera!

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Equinócio

É o ponto orbital da Terra onde o dia tem o mesmo numero de horas da noite, 12 cada. Essa é uma explicação astronômica, porém um tanto quanto fria. Mas há outra explicação bem melhor, e até poética, é o dia da chegada da primavera. E nada melhor que esse período para mudar um pouco de atitude, deixar de lado essa correria diária, e observar as formas, cores e aroma.
 
Sim é o momento de olhar as plantas nas sacadas, nos canteiros, nas copas das árvores, sentir o aroma  característico, deixar-se envolver pela enorme variedade de flores.

É a época das begônias, crisântemos, margaridas, eritréias, girassóis, petúnias, gérberas, primaveras, rosas (essas dispensam comentários), e tantas outras mais, que deixam essa estação tão perfeita. E como se não bastasse, ainda temos o complemento disso tudo: A mulher, a  flor das flores! Acho que Ele ao criar essa estação se inspirou nela.

Uma estação feita, não apenas para olhar e sim, sentir, respirar, sonhar, se emocionar, canta-la e dividi-la em palavras que possam conter, imaginariamente, esse buquê de variadas flores.

Assim ter uma  “Feliz Primavera!” (será que foi dito antes?), se a resposta for positiva ou negativa, tanto faz, o que vale é o:
  

Buquê

Inicio de uma estação tão bela
Os aromas, formas e cores
Olhos veem,  coração se encanta
Irradia na alma, alegria tanta 

Inicio de uma nova estação
Com inúmeros contrastes
As mãos tocam, a pele eriça
Poros e pêlos, completa emoção 

Amanhece mais vivo o dia
Tons variados, correm á tardinha
Fragrância das flores contém a brisa
Êxtase, chegastes, tu primavera
 
 
ecobueno15
 
 

Beto Guedes - Sol de Primavera



terça-feira, 22 de setembro de 2015

Avassaladora!


Não sei exatamente quando nem como, só sei que ao vê-la pela primeira vez, algo inexplicável aconteceu. Foi diferente de tudo que até então sentira.

Como toda beleza, que de dentro aflora, não passa despercebida, ela foi me envolvendo, me cativando e, a cada dia que passava, era impossível ficar indiferente a sua presença.
Timidamente fui me aproximando, afinal ela era incrivelmente arrebatadora. Dona de uma luz que fluía e ressaltava seus traços bem acertados, fazia com que não fosse algo fácil, pois minha pequenez e falta de cultura, era um grande impeditivo. Ela parecia inatingível. Reinava absoluta, em forma e conteúdo.
 
Era como se só os possuidores de dons divinos, assim como ela, detentores de nobreza e sabedoria, os poetas, fossem merecedores de sua companhia.
Dava um frio na espinha só de imaginar o quão incrível seria, se ela viesse a ser parte dos meus dias. Mas, por ser simplesmente bela e desejada, sabia que não seria tão simples. Teria que, além de expandir meus horizontes, ser paciente, perseverante e saber que não seria num simples lampejar, numa efeméride, que a conquistaria.

Mas como era algo sem volta, afinal sua beleza me falava através de metáforas concretas, sem eufemismos. Fui me aproximando das anáforas que se repetiam até que pudesse entender algo. Mesmo que intencionalmente seus anacolutos viessem para confundir a lógica das coisas e a ambiguidade que destilavam significado duplo, bem como as catacreses que faziam perder o sentido, buscava nas antíteses a solução. Nas elipses deixava tudo subentendido e quando queria ter pressa o assíndeto me pedia calma e driblava a ansiedade. Mas antes de ser tomado pelo tédio, o polissíndeto acelerava e dava novo ritmo. Rica em hipérboles que enfatizavam o momento, dando gradação para atingir e acumular conhecimentos. Na sua inquieta ironia, sempre dizia algo direto, indiretamente, e nessa metonímia quando percebia já estava próximo e dominado. Onomatopeias que me faziam ouvir vozes, sons, cantos; era sua prosopopeia que dava vida aos seres inanimados, mesmo no silencio ensurdecedor. Isso causava sensações diferentes, doce sinestesia. Mesmo o solecismo e os cacófatos não incomodavam e nem pareciam redundantes aos ouvidos, tudo parecia se encaixar.
 
Como não sou perfeito, me irritava profundamente, não entender seus repetitivos pleonasmos, suas catacreses sem sentido, seus exageros galicismicos híbridos, com seus hipérbatos que trocavam a ordem natural das coisas. Mas tudo não passava de um zeugma para não cair na mesmice. Era tudo em nome da liberdade poética.
 
Compreendi então, que para fazer parte do seu mundo, teria que respeitá-la. Agora, mesmo sem ser poeta, conquistei a companhia rara e perene da bela e avassaladora poesia!

Ecobueno15

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Escolhas e Escolhidos


Muitas vezes o ato de escolher e ser escolhido são confundidos e tratados como um só. Apesar de serem parecidos, são muito diferentes em forma e conteúdo. Um traduz o ato de selecionar algo. O outro é a aceitação dessa escolha. Um representa a intensão de buscar o melhor do que se pretende ter. O outro é o que complementa a ação do querer. O ser.   
 
Escolher: verbo transitivo direto: Apontar, aduzir, procurar, destacar, citar, selecionar, definir segundo a qualidade.
Escolhido(a), adjetivo + substantivo masculino/feminino: Estabelecido(a), nomeado(a), indicado(a), determinado(a), destacado(a), designado(a), preferido(a), mais-querido(a).
 
Quem escolhe sempre busca o melhor e, toda escolha vem acompanhada de uma grande expectativa. Escolher é desejar que o ato em si, seja capaz de atingir seus anseios.
 
Ser escolhido é algo difícil de ser mensurado. Afinal, num universo de tantos, no mínimo parecidos (não iguais), você é aquele que representa o diferencial. Você é o mais-querido! 
E dentre as muitas variáveis, ser escolhido pelos que fecundam a semente – pai e mãe – e resolvem dividir com você a alegria de estar sempre presente nos cuidados com o fruto, é algo sem precedentes. Quando chega a noticia (convite), há uma mistura de emoção e medo. Emoção pelo imenso valor da escolha. Medo de não ser capaz de corresponder à altura.
 
E nessa experiência tão singular, fica latente a responsabilidade, ainda mais quando a escolha é ratificada e legitimada por aqueles que lhes foram confiados, e depositam em você suas expectativas. Muito além das convenções sociais, ou de um ato religioso, ser escolhido para esse propósito é privilégio para poucos, impossível de mensurar.

 
Vinicius-Beatriz-Gabriel
Mesmo que bata a insegurança de não conseguir dar conta do recado, a satisfação de ser escolhido PADRINHO é muito maior e finda qualquer receio, trazendo a força da superação.
Ainda mais quando a escolha é sustentada por esse tripé: Beatriz com sua meiguice, delicadeza e a força que só as meninas são capazes de ter; Vinicius com seus questionamentos, a curiosidade e esperteza própria do menino; Gabriel com sua vivacidade, afetuosidade e a cativante destreza que a adolescência faz aflorar, que tanto me surpreende.
Sejam abençoados, sempre! Afinal, por vocês, sou todos os dias!
                ecobueno15
 
 

Chuva no Asfalato (haicai)

By Lu
       
 
 
                          Os pingos da chuva
                          Sobre o impermeável asfalto
                          São espelhos d’agua
 
 
                                     ecobueno