sábado, 30 de novembro de 2013

Coisas que Esquecemos


Coisas que esquecemos
Mas não demora relembrarmos
Hoje você se alimentou,
E de agradecer, se lembrou?
Ah, não tinha o que você imaginou?
Então, simplesmente reclamou
Como estava o dia, não lhe agradou?
Por isso se ressentiu, malversou?
Mas, e aí, alguma coisa faltou?
Ou você nem notou?
Sei, de outras preocupações, se ocupou
Pois é, lembre-se:
Muitos vivem do que lhes restou
E ao chegar o dia que minguou
Do instinto de sobrevivência se fartou
E rotineiramente o dia se levantou e se deitou
Mas só por querer continuar, se fartou


Ecobueno13



Inquantificável


Outra vez! Poderia dizer que a rotina do viver é algo que nos faz seguir adiante. Mas a minha “outra vez”,  em nada acrescenta ao meu viver. Acho.

Foi mais uma cirurgia para a retirada de cálculos renais que resultou na colocação do “Duplo J”. Após a cirurgia realizada no HC da FMUSP de São Paulo, voltei para casa para a devida recuperação.

Alguns dias depois ocorreu um acidente, o fio que segura o “Duplo J” – uma espécie de cateter - que ajuda numa extração mais pratica e sem anestesias, enroscou no zíper da calça e quase fiz uma extração caseira. Resultado, além da dor, continência urinária. Voltei para o hospital, nova internação. Mais uma noite no leito de um hospital. Rotina, ultimamente.

Mesmo com o susto, o imprevisto, no outro dia a retirada do “Duplo J”, aconteceu  sem sustos e sobressaltos, o retorno para casa foi tranquilo. Ufa!

Apesar de tudo isso trazer grande desconforto e um tremendo susto, não posso  deixar de agradecer e lembrar da parte boa e engrandecedora que isso tudo traz.

Essa parte se chama solidariedade, atenção, carinho e disponibilização de um tempo que é único, para se dedicar as minhas necessidades. Não estou aqui, apesar da sua importância, falando dos médicos e seu estafe, enfermeiros, auxiliares, técnicos e outros que fazem parte do corpo hospitalar, pois eles são pagos para tal.

Tal representatividade advêm de alguém. Uma pessoa que apesar de tudo, tira de seus momentos, que são preciosos, uma parte para me acompanhar, fazer a internação, ir me buscar e me dar o conforto tão imprescindível. Sem nada receber por tudo isso. E além do mais, com essa atitude acaba contaminado e levando a reboque outros dos seus, que muitas vezes desviam seus caminhos para seguir junto ao meu e às minhas necessidades.

Paes, irmãos e amigos, todos que a rodeiam, me trazem a sensação do quão preciosos são os elos que construímos ao longo dessa vida tão curta, veloz e incerta quanto ao futuro próximo.

Faltam palavras para descrever o que sinto ao receber esse carinho. Carinho esse que tem valor inestimável. Não é possível dimensionar nem quantificar, afinal quem sou para invadir o seio e a rotina de outras pessoas? Pessoas essas que, simplesmente por serem a mais pura representação do que é verdadeiramente humano me emprestam suas rotinas, suas mãos e coração e, dessa maneira  me ajudam nessa caminhada, onde ser só é tão difícil.  

A solidariedade é o presente mais completo que podemos receber nesse nosso caminhar. Por isso não poderia deixar de expressar, mesmo que dessa maneira, tão peculiar, minha enorme gratidão para esses que me fazem me sentir, apesar da dor física, um pouco mais confortável quanto ás dores da alma.
Por isso uso esse meio – redes sociais – para deixar registrado o meu eterno agradecimento e carinho, a todos que fazem tanto por tão pouco. Me sinto acolhido por todos da família Assunção e em especial a ti, Quésia.
Ecobueno13

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Ecos do Silêncio

 
Zero hora: Que horário enigmático
É meia noite, ou noite e meia?
É inicio do dia ou fim da noite?
É meia hora, hora inteira, ou hora e meia?
Só sei que é noite, escuridão impera
Os questionamentos ecoam no vazio do silêncio
Contraditório, pois o som não se propaga no vácuo
Então se é noite, tem ou não dia?
Se há silêncio, cadê o eco? (eu?)
Esse eterno paradoxo, zero hora, enfim
Pode ser tanto inicio quanto fim...
Ecobueno


Física


Entre tu e o universo sou
Átomo
Pequenina, invisível, indivisível
Partícula
Entre tu e o céu de estrelas, sou
Metafórico
Ah! Queria ser igual a flor
Pétala
Colorir, aromatizar, te encantar. Ser
Metabólico
Entre tu e o horizonte, o que sou?
Ilógico
E tu, um ser maravilhoso
Metafísico
Entre tu, o firmamento e eu
Metátese
Entre tu e o infinito, ascendente,
Êxtase
Nisso tudo físico, que fiz? Teu ser
Quis!
Ecobueno

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Vale a Pena!


O caminho do viver às vezes é difícil, repleto de pedras, frio, triste e solitário, mas vale a pena! Ele se revela no verde esperança das árvores. No oliva das folhas. Nesse imenso colorido das flores. Se sustenta no verde escuro, quase marrom, dos caules rijos dessa intrigante natureza.

Até mesmo no negro do asfalto. No cinza do concreto. Nessa imensa cidade que reflete em seus espelhos a grandeza desses edifícios que se erguem verticalmente rumo ao céu azul anil. Formando essa natureza, artificial, selva de pedras, sim, mas é ela que nos abriga.

Nesse mar verde esmeralda, que se junta ao horizonte infinito onde o pôr-do-sol com cores que chamuscam o céu num vermelho amarelado, à tardinha. A espuma das ondas que quebram nas pedras sem parar, ou deságuam na areia branca, rebentam no ar esse som inconfundível de um ir e vir incansável. Essa mistura do aroma salobro com o doce de um perfume característico de maresia, é a brisa a beira mar.

A vida é bela, incessante, um despertar, no brilho dos olhos que se mostram de variadas cores: o ébano, o castanho dourado, o verde musgo, o azul, os mesmos olhos que recebem e filtram a luz em imagens que são definidas e identificadas, belas e únicas, que podemos ver.

A vida é grandiosa no sorriso vívido e maroto de uma criança. É a descoberta em cada novo gesto, em cada pergunta respondida. É livre como os cabelos desgrenhados ao vento. Ou como seus pensamentos.

A vida é atrevida, no vermelho dos lábios, na maciez da pele, na delicadeza do toque. A vida é descoberta, nos desejos, no calor dos corpos. Nas trocas de carinho. A vida é perpetuada pela semente fecundada.

Mesmo dormindo continuamos a viver. A vida é o descanso, para reabilitar as energias, num sono tranqüilo. É o desgaste e agitação de um inquietante pesadelo. É a recompensa e o romantismo de um colorido, sonho.

A vida é o despertar como o sol que nasce preguiçoso e se agiganta durante o dia. É continuada como as quatro estações. Dividida como as fases da lua. Tem seus altos e baixos como nas marés. A vida é a tradução da natureza, em luzes, cores e sabores. Porque não valeria a pena? 

ecobueno




sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Ser Só


Os primeiros raios de luz, preguiçosamente, aos poucos, no céu, vão formando a teia de um novo amanhecer. É momento de levantar. A noite fora longa e insone, como tantas outras. Nesse novo-velho amanhecer, a vida instintiva, que nos move em busca de motivos para mais uma etapa, revela-nos mais um dia.

Atordoado por uma noite quase interminável, algo rotineiro desde quando  a realidade de estar só, bateu a minha porta e revelou a grandeza da minha pequenez, ouvi uma voz.


- Você não respondeu meu bom dia. Não ouve, ou finge não me ouvir? – reclamou.

- Quem é você?  - Murmurei meio desnorteado e ao mesmo tempo apreensivo.

- Bem, não importa quem sou, somente o que vou te dizer – respondeu evasivamente.

Resolvi não dar muita atenção e me concentrar nos afazeres de toda manhã. Talvez isso , aquilo, a voz, sei lá, fosse o reflexo de uma noite em claro. Continuei em minha rotina. Porém o  silêncio ensurdecedor que me era costumeiro, estava diferente e inquietante.

Após o banho, me troquei e fui tomar o café. Ao levar a xícara a boca, o silêncio se rompeu e aquela voz  ecoou mais incisiva e clara.

- Seu café está amargo? – Me lembrou, com um tom de deboche.

-Sim, prefiro ele sem açúcar! – Exclamei, fingindo não entender a pergunta.

- Não foi nesse sentido que quis dizer, você sabe... Seu café está amargo, não pela falta de açúcar, mel ou adoçante, e sim pela falta de companhia. Seu café da manhã é enriquecido com o sabor da solidão – completou com um sorriso contido, de canto de lábios.

Não quis, ou melhor, nem tinha argumentos para responder. Era a pura verdade. Eu estava só, e não era novidade. Antes que a voz pudesse continuar, de um só gole tomei o restante do café, já frio, e saí de casa o mais rápido que pude. Parecia um fugitivo de mim mesmo.

O dia parecia transcorrer corriqueiramente. Não queria me recordar do que ocorrera pela manhã. E absorto aos meus afazeres, nem  dera conta  que o tempo passara e já era hora do almoço.

Fui almoçar e ao me sentar à mesa, algo despertou-me para a realidade. A voz se fez presente. E feito uma metralhadora, disparou certeira: - Então, como está seu almoço? Sem sal, sem tempero, sem gosto?

Levei um susto. Quase me engasguei.  O tom da voz parecia mais forte e impiedosa. Afastei automaticamente o prato, como se ele fosse o culpado. Talvez se não a “alimentasse”, ela simplesmente se calaria, pensei. Pura ingenuidade.

- Nada disso vai adiantar – insistiu – quanto mais você tenta me ignorar, mais clara e audível estarei. Você aí, almoçando sozinho, revela o tamanho da sua importância. E não pense que o universo conspira contra você, não! Ele é apenas um lugar para os mais representativos, o que no seu caso... – suspirou sarcasticamente – é duvidoso.

Tais palavras foram como um soco no estômago. O que havia ingerido se transformou numa bola amorfa e indigesta. Me levantei, fui ao banheiro, lavei o rosto, estava pálido, tentando aliviar a tensão. Olhei no espelho e não me vi. A voz, ao longe parecia regojizar satisfeita e vitoriosa.

O restante do dia se arrastou mórbida e lugubremente. O efeito daquelas palavras mal digeridas ainda ressoavam em meu ego. Entardeceu, a voz, apesar de se fazer presente, nada dizia. A noite caiu, hora de voltar para casa. Na verdade não queria voltar. Abreviei o máximo que pude. Afinal quem encontraria? Quem me esperava? O vazio? A voz? Ou simplesmente, ninguém. O que poderia era pior? Não conseguia distinguir...

Mas como é inevitável, voltei. O calor do dia me deixara exausto. Demorei o quanto pude no banho, como se a água que caia do chuveiro fosse um bálsamo que me aliviaria de um dia modorrento. Terminei o banho. Confesso que relaxei um pouco. O silêncio imperava.

Resolvi preparar algo para comer, como não havia tomado café direito e o almoço não descera bem, a fome apertava. Preparei algo rápido e leve, macarrão alho e óleo (ao menos era o que parecia), umas folhas verdes e um copo de água para ajudar na digestão.

Tudo posto à mesa, arrumado, me sentei. Ao dar a primeira garfada um estrondo, feito um trovão, abalou o silêncio.

- Não adianta arrumar os pratos, talhares, travessas ou o que quer que seja, pois nada disso tirará essa sensação que te toma agora – ressoou a voz, cinicamente.

- Será que não posso ter um momento de paz, nem ao menos para comer? – retruquei indignado, com as poucas forças que me restavam, após um dia estafante.

- Muito bem. Isso mesmo. Vamos lá. Continue. – a voz, me incitou ironicamente -  Esse tipo de reação em nada me surpreende. É só isso que pode fazer? Sabe que  esse jantar é apenas o complemento de um dia em que sua única companhia fui eu. E em nada vai adiantar essas reações destemperadas.

- O que não adianta é você ficar me azucrinado dessa maneira! – interrompi rispidamente  – Não pense que vai estragar mais uma vez minha refeição. Pode falar o quanto quiser vou continuar comendo.

- Você sabe muito bem que o que estou falando é a mais pura verdade – continuou - você deve brindar seu jantar com sua eterna companheira, a solidão! Não é só nessa, nas demais refeições, sua única companhia além dela, serei eu. É a sua realidade, não adianta fugir – completou com ar de superioridade e se calou.

Terminei o jantar num silêncio sepulcral, podia ouvir barulho da mastigação. Tomei a água para ajudar na digestão e fiquei esperando algum comentário da voz. Nada. Então percebi que apesar daquela parecer impiedosa e me atrapalhar, nada mais era que minha única companhia nesses momentos de solidão. Amanhecer, entardecer, anoitecer sozinho é assim automático. Apenas um brinde vão.

- Voz, cadê você? Está me ouvindo?!



Ecobueno2013