sexta-feira, 27 de março de 2015

Axioma

renovação

                 No canteiro a muda que muda

                 Deixa ver de novo o verde novo

                 A cor da esperança que avança

                 E não se apequena na pequena planta

                 A flora  que aflora, se agiganta e encanta

                 É feito o brilho dos olhos teus

                 Que re(Lu)z e torna a vida ávida


                 ecobueno15

quinta-feira, 26 de março de 2015

Poesia e Prece

Folhas e luzes
Em vias de fazer mais uma cirurgia (dia 30), a ultima não fora uma experiência muito agradável, eis que me transporto para uma poesia do poeta Carlos Nejar, Lisura, que diz assim: “Entras na morte como entra em casa/ Desvestindo a carne, pondo teus chinelos e pijama velhos/ Entras na morte como quem parte para uma viagem/ Não sabe o norte, mas começa agora/ Entras sem escuros, sem punhais ocultos sob teu orgulho / Entras na morte, limpo de cuidados breves; como alguém que dorme na varanda enorme, entras na morte”. 

Sim, morremos um pouco a cada dia, mas como a natureza é sabia, morremos sem saber quando, onde ou como e, muitas vezes, não damos conta da nossa hora quando ela chega. A não ser em caso de suicídio ou na morte datada dos condenados. E assim deixamos estupefatos aqueles que nos amam e indiferentes os que nos odeiam, pela simplicidade do adeus.

A morte, de certa forma, desperta nossos sentimentos, mesmo que seja de uma maneira um tanto quanto indesejável. Escreveu Albert Camus: “como amamos os amigos que acaba de deixar-nos, não acha? (...) A razão é simples! Para com eles, já não há deveres”. Podem parecer palavras muito ásperas e frias, mas muitas vezes é isso o que acontece. Quantas vezes ouvimos aquela frase de compaixão, tão comum, mesmo que tenha sido um grande desafeto - “Coitado, era uma boa pessoa”. É o contraditório da morte. A morte provém da vida, sem ela a vida não seria vida.

É uma situação que jamais gostaríamos que acontecesse, mas é o percurso natural, viver e morrer. E Carlos Nejar ensina que é possível fazer da poesia uma prece. Isso, talvez ajude a trazer discernimento e calma, daqueles que me amam, quando precisarem viver o meu fim.

Mas qual o motivo de tocar nesse assunto, as vésperas de uma cirurgia? Medo? Não! É porque as complicações da operação anterior me fizeram ver que o viver é essa linha tênue e que posso "entrar" na casa da morte e permanecer vivo (ao menos) nos versos que escrevo. Afinal morrer não é o fim em si mesmo.

ecobueno15

segunda-feira, 23 de março de 2015

Trânsito Platônico

Transito
Como se não bastasse ter que disputar um naco de espaço nesse mar de carros, ainda tinha que me “atracar“ com as alavancas das marchas, do pisca alerta, do limpador de para-brisa, das luzes, do freio-de-mão; com os pedais do acelerador, dos freios e da embreagem (o carro não é automático). Os botões dos vidros, do ar condicionado, do rádio, da buzina e outros que ainda não descobri para que servem. Sem contar que, além disso, era preciso prestar atenção nas placas, nos semáforos, nos pedestres, nos carros à frente, ao lado, nos motoqueiros e sei lá mais o quê. Olhar no retrovisor direito, no esquerdo e no espelho interno para ver o que acontece lá atrás (haja olhos). E nesse para e anda, anda e para, o suor é delator da tensão que o transito provoca.

Enquanto travava essa briga inglória, devido minha pouca coordenação, limitado às funções ao volante, eis que do meu lado vejo um carro que, além da musica Thunderstruck do ACDC, que podia ouvir, estava com os vidros abertos, as atitudes de quem o conduzia me prenderam a atenção.

PlatonicoAssim que parou, imediatamente baixou o espelho de cortesia e com um pequeno e longo pincel, delineou e alongou os cílios, realçando os olhos luminosos. Se fosse eu, no mínimo, teria que passar a usar tapa olho feito pirata. Em seguida, num movimento único, preciso, contornou os lábios com batom rosa-opaco, e pressionando-os suavemente, completou o desenho deixando-os mais vivos. Se fosse eu, seria confundido com um palhaço, todo borrado. Os carros à volta começaram a se mover e, sem problemas, deixou que o seu deslizasse suavemente. Enquanto eu ia aos solavancos. Quando tudo parou novamente, ela apanhou um pincel de cerdas finas e arredondadas e esfumaçou na face um pó (blush?) realçando o tom da sua tez morena tropicana. Depois apanhou uma escova tipo raquete e passou rápida e minuciosamente pelos fios castanhos, deixando suas madeixas soltas e reluzentes. Para arrematar, num movimento preciso de cabeça ao ritmo da musica, voilá, perfeita! Ao me ver, não se fez de rogada,  piscou sorrindo e quando o farol abriu, se foi. Simplesmente bela e encantadora.

Claro, fiquei para traz tentando processar o significado do piscar d’olhos. Seria uma paquera? Deboche, talvez? Ar de superioridade? (É fato). Ou ela só quis dizer: - Aprovou? Bem, o que quer que tenha sido, serviu para mostrar o quão simples é para elas, mesmo ao volante, transformar breves momentos num acontecimento. O que seria desse transito caótico sem esse dom feminino de se fazer tão linda? As buzinas machistas impedem a resposta. Finalmente fiz o carro pegar. Ufa!... fui. 

ecobueno15

quarta-feira, 18 de março de 2015

Ser Só


                        Ao cair da noite
                        Do fundo do meu quarto
                        D´onde só, adormeço
                        No vazio dos sonhos, tropeço
                        E ao despencar, nessa imensidão
                        Entre o presente e o ausente, confuso
                        Me vejo clandestino do meu próprio corpo
                        Então, no breu do silêncio, desperto
                        Aflito, com o eco da solidão.

                        ecobueno