Chegou Dezembro! As ruas da cidade, cheias de gente, enfeites
coloridos, o apagar e acender frenético das luzes e musicas características, denunciam
a proximidade do Natal.
Mas ao passar em frente a Estação
da Luz, algo destoava, afinal estava ali o reflexo de uma cidade que apesar de rica e pujante, como é São Paulo, parecia
abandonada de tão mal cuidada. Imediatamente pensei nos versos da música Sampa, de Caetano Veloso que diz: “Chamei
de mal gosto o que vi/ De mau gosto/ Mau gosto/ É que Narciso acha feio / O que
não é espelho”, mesmo que a fachada da estação revele uma arquitetura de rara
beleza.
Martelando esses versos avancei
pela rua José Paulino e alcancei o quadrilátero onde a ambiguidade entre
crescimento e degradação é explicito. Ao
acessar a rua Helvétia me deparei com um cenário bem mais degradante. A Estação da
Luz fora só um prenúncio.
Ali todos os espaços possíveis: marquises, calçadas,
meio fio e até o meio da rua, estavam tomados por personagens
atípicos, sujos, maltrapilhos. Alguns descamisados, outros encapuzados e ou enrolados em cobertores, notívagas em pleno sol primaveril. Outros jaziam pelos
cantos enquanto os que perambulavam nem faziam conta. Mulheres, jovens e crianças,
seguiam de um lado para o outro, pareciam buscar algo, mas sem saber o que.
Um aglomerado de seres que se
misturavam ao lixo, que eles mesmos produziram, lembravam personagens saídos do
seriado Walking Dead, verdadeiros zumbis, porém sem os efeitos especiais das
ficções hollywoodianas. Era a realidade nua e crua da vida imitando a arte. Ou
seria o contrário?
As luzes coloridas embaladas pelo
tema natalino dizendo “As alegrias serão
de todos/ Esses nossos sonhos/ Serão verdade/ E o futuro já começou”,
contradiziam com aquela realidade. Luzes sem brilho, a falta de cores, pessoas com suas vidas desperdiçadas, nada de sonhos e o futuro, quiçá existiria.
Muitos sequer viverão para transmitir a alguém o “legado de sua miséria”, como
afirmava Brás Cubas (Machado de Assis). O que se tinha era uma massa amorfa que
se dividia entre a ilusão nos momentos de êxtase e a realidade da dor que vicia;
nesse novo velho problema que é o crack.
Sem querer usar de sofismas, mas tudo
é parte de uma mesma cidade que não é só asfalto, concreto e aço, ela pulsa e
se divide em fragmentos de diversidades. Enquanto de um lado existe a preocupação
com as datas, festas e comemorações para alimentar os lucros e garantir a
perenidade. Do outro existe apenas o intuito de alimentar (aliviar) as
necessidades momentâneas. A mesma que corrói a alma, destrói a esperança e onde
tudo se torna tênue e fugaz.
“Da
feia fumaça/Que sobe apagando as estrela (...) Alguma coisa acontece/No meu
coração...”
Ecobueno