Datas comemorativas como
aniversários, dia das mães, Páscoa, etc., servem para reunir as famílias e o
que impera nos assuntos é o passado. Em meio á descontração, gargalhadas, onde
nada é premeditado, o mais novo recorda algo, o mais velho reforça, os pais
confirmam e esses fatos vão alinhavando uma colcha de retalhos, que muitas
vezes serve como um enorme tapete pesado e escuro que esconde a parte mais suja
dessas lembranças.
Tudo bem que muitas dessas
sujeiras ao serem revolvidas trazem certo alívio, e por terem sido ditas
abertamente num momento de descontração apagam muitas mágoas, ressentimentos e
até más impressões que há muito corroíam. Aparam-se as arestas.
Mas, quando certos assuntos,
tabus, vêm á tona, tudo muda. Numa cultura extremamente patriarcal, machista,
como a nossa, fica difícil o diálogo aberto e a desconfiança, a insensibilidade
sempre reverte a vitima, se não em réu, no mínimo em culpado.
Infelizmente isso não é exclusivo
de famílias desestruturadas financeiramente ou pobres culturalmente. É recorrente
em qualquer classe social, base financeira, níveis de escolaridade e até mesmo
com vínculos fortes de religiosidade. O olhar de acusação é fulminante.
Isso faz com que fique extremamente
difícil para a parte que sofreu tal agressão denunciar, pois sempre haverá os
“desconfiados” de plantão ou aqueles que preferem passar uma borracha em cima
de tudo, esquecer. Afinal a família deve continuar sempre “unida”, e tudo é
passado. – Nada como o tempo para curar as feridas! Ensinam os céticos.
Enquanto isso, quem sofreu a
violência fica com suas feridas, não só físicas como psicológicas, abertas,
pois recebe toda a carga de culpa e desconfiança por parte de quem se diz
guardião da família e dos bons costumes. Sem contar com o medo de que isso
sempre se repita. É no mínimo traumático.
Também há a dificuldade em fazer a
denuncia, pois terá que passar pelo constrangimento da desconfiança e da dor
das recordações. Sem contar que seus interlocutores querem saber dos detalhes e
ainda assim custam a tomar uma posição de defesa, quanto muito de desconfiança,
e na maioria das vezes, torna-se o inquisidor.
Foi numa dessas reuniões que descobri
a dor latente de quem sofre tal sevícia e da insensibilidade daqueles que
deveriam ajudar na diminuição dessa dor. Percebi que eles só pensam em manter a
boa imagem de família unida, mesmo que isso implique em fazer vistas grossas
aos fatos. Triste.
Esse é um assunto extremamente delicado
e deve ser tratado com o máximo de cuidado e seriedade, pois violência sexual é
um ato de covardia, além de ser um caso de polícia. Jamais deve ser ignorado. Não
é possível se omitir diante de tal fato, no mínimo devemos ser solidários com a
vítima. Para quem tem crianças que estão descobrindo a sexualidade o assunto
deve ser abordado com franqueza e seriedade a fim de se evitar que isso
aconteça.
Ecobueno13