quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Lembranças Dolorosas (Abuso)


Datas comemorativas como aniversários, dia das mães, Páscoa, etc., servem para reunir as famílias e o que impera nos assuntos é o passado. Em meio á descontração, gargalhadas, onde nada é premeditado, o mais novo recorda algo, o mais velho reforça, os pais confirmam e esses fatos vão alinhavando uma colcha de retalhos, que muitas vezes serve como um enorme tapete pesado e escuro que esconde a parte mais suja dessas lembranças.
Tudo bem que muitas dessas sujeiras ao serem revolvidas trazem certo alívio, e por terem sido ditas abertamente num momento de descontração apagam muitas mágoas, ressentimentos e até más impressões que há muito corroíam. Aparam-se as arestas.
Mas, quando certos assuntos, tabus, vêm á tona, tudo muda. Numa cultura extremamente patriarcal, machista, como a nossa, fica difícil o diálogo aberto e a desconfiança, a insensibilidade sempre reverte a vitima, se não em réu, no mínimo em culpado.
Infelizmente isso não é exclusivo de famílias desestruturadas financeiramente ou pobres culturalmente. É recorrente em qualquer classe social, base financeira, níveis de escolaridade e até mesmo com vínculos fortes de religiosidade. O olhar de acusação é fulminante.
Isso faz com que fique extremamente difícil para a parte que sofreu tal agressão denunciar, pois sempre haverá os “desconfiados” de plantão ou aqueles que preferem passar uma borracha em cima de tudo, esquecer. Afinal a família deve continuar sempre “unida”, e tudo é passado. – Nada como o tempo para curar as feridas! Ensinam os céticos.
Enquanto isso, quem sofreu a violência fica com suas feridas, não só físicas como psicológicas, abertas, pois recebe toda a carga de culpa e desconfiança por parte de quem se diz guardião da família e dos bons costumes. Sem contar com o medo de que isso sempre se repita. É no mínimo traumático.
Também há a dificuldade em fazer a denuncia, pois terá que passar pelo constrangimento da desconfiança e da dor das recordações. Sem contar que seus interlocutores querem saber dos detalhes e ainda assim custam a tomar uma posição de defesa, quanto muito de desconfiança, e na maioria das vezes, torna-se o inquisidor.
Foi numa dessas reuniões que descobri a dor latente de quem sofre tal sevícia e da insensibilidade daqueles que deveriam ajudar na diminuição dessa dor. Percebi que eles só pensam em manter a boa imagem de família unida, mesmo que isso implique em fazer vistas grossas aos fatos. Triste.
Esse é um assunto extremamente delicado e deve ser tratado com o máximo de cuidado e seriedade, pois violência sexual é um ato de covardia, além de ser um caso de polícia. Jamais deve ser ignorado. Não é possível se omitir diante de tal fato, no mínimo devemos ser solidários com a vítima. Para quem tem crianças que estão descobrindo a sexualidade o assunto deve ser abordado com franqueza e seriedade a fim de se evitar que isso aconteça.
Ecobueno13