quinta-feira, 3 de julho de 2014

A Viagem da Vó Luzia

Dia menos dia chega o momento de se despedir. E como falar de algo tão triste sem usar clichês? Foi o que pensei ao receber tal noticia. Respirei fundo e decidi: nada de tristezas e melancolias nas palavras, melhor tentar resgatar e eternizar as boas lembranças.

A vida se assemelha a um trem com seus vagões (famílias), que segue em seu trilho (caminho) contando a história (vida) de seus passageiros. Ambíguo, é o mesmo da chegada (nascimento) e o da partida (descanso). Pessoas embarcando e desembarcando a cada estação, dias, meses, anos, sem interromper seu curso. Mesmo que isso aconteça a todo instante, chegada e partida, num “belo” dia a hora da despedida é inevitável. Então, nos damos conta que alguém desceu na plataforma daquela estação e não embarcará novamente. O sentimento de vazio irrompe todo o vagão.

Desse momento em diante, certamente, a viagem será um pouco menos feliz, sim. Mas a tristeza não pode se sobrepor, mesmo que o sentimento de dor insista, a viagem tem que continuar. Quem desembarca é porque já completou seu ciclo.

A semente que é fecundada, nasce, ramifica, cresce, floresce e dá frutos, é o ciclo do milagre da vida! E você, vó Luzia, o completou com tamanha destreza e muita competência. Por isso, o seu desembarque não pode ser motivo de sofrimento, mas sim de boas lembranças. Pois com sua clarividência, paz, energia e sabedoria, nos deixou um colorido diferente nessa matiz de cores que é o viver. Por isso, é preciso continuar com os embarques e desembarques, dar sequência e celebrar o que nos ensinou durante sua viagem.

Uma mulher que soube cumprir seu ciclo de forma natural e deixou em cada chegada e despedida, sua marca. A marca da alegria, do respeito, da perseverança, e acima de tudo, do amor. Amor para com os seus, para aqueles que tiveram a sorte de partilhar e compartilhar suas belas histórias e ensinamentos.

No dia do seu desembarque, o céu sem nenhuma nuvem e de um azul perturbador, reLuzia nas janelas desse trem, como se nos avisasse que não é momento de tristeza, de pesares talvez, afinal alguém com essa aura única, jamais passará sem deixar a sensação de vazio, uma saudade que muitas vezes não cabe em nós. Mas, esse céu inquietante revela que és parte indissociável da obra divina e jamais se apagará. Luz!

Sim, é difícil segurar as lágrimas, pois a limitada compreensão e o egoísmo que nos é peculiar, faz com que pensemos que algo de importante teve fim, mas não é bem assim. Sua presença estará em tudo que possa ser lembrado, na sua infinita sabedoria, no seu espírito guerreiro, no amor incondicional de mulher, mãe, avó. Também na presença física dos seus frutos, que continuarão seu ciclo. E dessa forma, a locomotiva jamais há de parar e tão pouco encerrar seu ciclo.

Vó Luzia (desculpe, também me considero seu neto), a sua luz, noite e dia continuará a iluminar os trilhos desse trem, vida. Obrigado e "Boa viagem".


Ecobueno14

4 comentários:

  1. Lindo Texto , infelizmente não tive o prazer de conviver com a vó Luzia , mas de alguma forma sinto a dor, e tbm a alegria por poder mesmo como agregada rs fazer parte dessa família , Beatriz , nora da Romilda

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    1. É isso, ela não era e sim sempre será a Vó Luzia. Uma pessoa no minimo incrivel. Te-la connhecido é poder acreditar q pessoas assim nis faz acreditar q aunda i amor e mais forte. Valeu o comentario. Abçs

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  2. Lindo o texto, como sempre voce arrasando no que escreve, Vo Luzia é um lindo ser, estara sempre guardada em nossos corãções.

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    1. Isso mesmo, ela faz parte de uma história que ~jamais terá fim. O trem segue...

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