Nesta época é mais do que comum o lugar comum (que trocadilho mais infame), mas é assim mesmo. Entra ano, sai ano e o que era para
ser Natal, torna-se meros natais. A expressão “renovar as
esperanças”, ou “é tempo de paz”, já se transformaram em jargões ditos apenas
para fixar o mais do mesmo.
As mensagens de boas festas, paz, fraternidade,
contrastam com a realidade. Então me pergunto por que tais desejos não são feitos
o ano todo, sem que seja necessário uma data específica para essas manifestações?
Essa data, o solstício que foi apropriado pela
religião e pelo folclore, se tornou num momento paradoxal em que se discursa
sobre bons sentimentos enquanto se consome em ritmo febril. E até mesmo os
nacionalistas de plantão se calam diante desse contraste que é o “bom velhinho”
que não tem a cara do nosso clima de mais de 30 graus nessa época do ano. Então
me ponho a pensar em como a generosidade e o respeito, só para ficar nesses
dois itens, andam em falta nos tempos atuais.
Somo seres sociáveis, e por isso, de certa forma,
sofremos a influência do meio, e nessa época nos esquecemos do racional, pois é
tudo bonito, alegre e colorido. É mais fácil, como fizeram conosco, alimentar o
imaginário infantil sem se dar conta de que tudo isso vai contra a corrente do
que elas serão amanhã. O senso crítico incomoda? Estamos subestimando a
inteligência desses seres curiosos e criativos, as crianças.
Cultivamos, com a desculpa de que é um dia de comemorações e fantasias, mas esquecemos que é impossível uma figura tão discrepante fazer o que ele faz em todos os lares, e no mesmo horário. E quem não pode ter essa fantasia concretizada por falta de condições ou pelo simples fato de que sua cultura ou religião não permitem, serão condenados? Onde está a fraternidade então? Desilusão!
Sim necessitamos de alguma fantasia, somos carne e
pensamento, um não dissocia do outro, e do mesmo modo o Natal é ficar feliz em
dar e receber presentes, é ver as crianças alegres com o que ganham, reunir a
família (quem as tem) e pronto, sem místicas ou melancolias. Não é necessário
ter essas figuras pitorescas para embalar nossos sonhos.
Perdi mãe, pai e tantos outros, sem contar a
decepção pessoal que abalou minha confiança e levou parte da minha crença e fé,
e apesar das frases consoladoras, “É a vida” (Não! É a morte mesmo), “Tudo vai
ficar bem” (defina o que é “bem”), descobri que a dor ganha intervalos, mas a
ausência fica. O vazio é o que mais dói.
Hoje, tudo isso só veio para reforçar em mim a
certeza, do que me resta e vale a pena, é ver o sorriso sincero estampado no
rosto das crianças. Essa sim é a melhor maneira de encerrar o ano - ainda bem -
como o fecho do capítulo de um livro que ainda não terminou (Até quando conseguirei
escrevê-lo?) e não essas festas e personagens com seus afagos sem nenhum
sentimento, sem nada a acrescentar. Só fazem lembrar que o melhor dessa época é
consumir, pois é dando que se recebe e nada mais. Se isso não ocorre o que
resta é a melancolia de uma data vazia. Hôhôhô..