O som que ecoa. Essa mistura de repiques, agogôs, reco-recos, chocalhos, cuícas,
tamborins, caixas, surdos, pandeiros, ao comando de apitos, vão estruturando
as peças, formando esse mosaico de timbres e tons que se encaixam em perfeita
harmonia: Bateria.
Nas alas, a coreografia que vai num crescente,
feito onda, toma forma, se espalhando por todos os lados, ocupando cada espaço,
cada canto, cada corpo, num transe coletivo, a massa se agiganta e deságua
nesse mar de euforia, onde o que vale é se divertir, dançar, sambar.
Em meio à folia, esse pulsar forte, estandarte, no
peito que bate sem parar, corre por entre as veias, eriçam pêlos, dilata os poros
e explode na carne quente, na pele molhada, branca ou corada, pura ou miscigenada, revelando a alegria
estampada no rosto de olhos brilhantes: Vida!
Cabeças, troncos, peitos, braços, coxas, bumbuns, pernas; cobertos,
entreabertos, coloridos, ou simplesmente desnudos. Sem pudores, gingando,
rodopiando, bailando, se entregando às batidas fortes de cada instrumento. O
compasso que dita o passo, em uníssono reverberando no ar, onde curvas e sons
se completam: Corpos.
Em meio ao colorido dos adereços, fantasias e serpentinas,
o corpo parece sair de nós, se lança ao imponderável, tem vida própria, e nos
leva onde querem. E nessa inquietude onde se misturam todos os sentidos, nada
parece fazer sentido, a não ser esse ritmo compassado que faz o corpo flutuar: Samba!
Um dia, outro dia, até o sol raiar, atrás do trio
elétrico, na avenida, nas praças, salões, em qualquer lugar. Um dia outro dia,
até o corpo não mais aguentar, se entregar ao êxtase, e completamente em
cinzas, na quarta chegar, quando o carnaval terminar.
Ecobueno