sexta-feira, 28 de maio de 2010

Suspiro!!!

Suspiro!!!

...
É assim que desabafo
Quando em silêncio, eu falo
Não que me falte a verve
Ou que eu nada saiba
É que não posso, na verdade
Algo tão íntimo, externar
Mesmo que pudesse
Se diria? não sei
...
Suspiro!!!

Ecobueno2010

Dom Casmurro

Olhos de Ressaca

As indagações sem respostas. O calar quando se deve falar. O consentir, quando o necessário é reagir. A insegurança que alimenta o medo. Decisões deixadas ao acaso. O medo de explicitar as emoções. Tudo isso nos leva a conclusões precipitadas. Conclusões que corroem aos poucos os mais belos sentimentos. E quando nos damos conta, tudo é jas.

O fel dos sentimentos maus resolvidos, amargor que corrói a alma. Os ciúmes e a desconfiança alimentam o egoísmo e aos poucos destroem o sentimento de cumplicidade que fora construído ao longo do tempo, muitas vezes a duras penas.

Quando isso ocorre, fica o vazio d’alma que preenche-nos de solidão, que é partilhada com essa sensação de que nada valeu. Os sonhos acabam! Então a alma se torna áspera, dura, obscura e carrancuda.

Tratar do clássico de Machado de Assis, Dom Casmurro (1900), como mera historia de traição, onde a insensatez da mente “doentia” de Bentinho, acusando Capitu de adultério, é simplesmente se fechar nessa redoma de uma alma vazia e carrancuda.

Toda a construção da história. Diálogos bem empregados. Tantas variáveis. As desilusões, as promessas, o interesseiro, o singelo, os sonhos de menino, um amor de infância que cresce junto com os personagens. As descobertas inocentes que contrastava com a determinação de Capitu, “uma mulher aguda”. A compaixão que Bentinho nos causa ao contar que fora prometido ao seminário por sua mãe, o afastando assim do seu amor. Todo esse enredo, que nos prende ao livro, pura magia, seria simplesmente esquecido na vala comum das conclusões toscas entre o certo e o errado, o bem e o mal.

Pobre Capitu que com seus “olhos de ressaca”, viu em determinado momento sua vida se desmanchar nas garras da desconfiança do seu amado, relegando seus sentimentos ao desatino de seu egoísmo e seus medos, explícitos em sua mágoa. Infeliz de bentinho, afirmando até o fim que o filho de Capitu não era seu, e sim o fruto de uma traição, deixou que sua vida se tornasse uma continuidade do mais triste dos sentimentos, a solidão.

A distinção dos personagens com suas dores, fraquezas, anseios e desejos, mostram um Machado de Assis completamente absorto às críticas, o que nos dá a verdadeira impressão desse mundo de homens frívolos e mulheres interesseiras, regido pelas vaidades e ilusões, mas ao mesmo tempo nos descreve a força das paixões, o apego à vida, a necessidade do movimento social daquela época.

A força da narrativa está na beleza das metáforas, nesse cromatismo dos olhares que sem nada dizer muito nos revelam – nada mais contemporâneo - pois é só observar ao redor e ver o quanto eles nos dizem, sem proferir som algum.

Olhos de luz, em matizes de azuis, que iluminam e dissipam o breu da noite. Olhos de paisagem que revelam cenários. Olhos sôfregos de mágoa que nos enchem de tristeza. Olhos rasos d’água, afogados em suas lágrimas. Esse par d’olhos meigos e desafiadores. Olhares quase infantis, de duplo sentido, desconcertantes. Olhos e olhares, assim tão verdadeiros. Os seus!

Ecobueno2010