No centro financeiro de São Paulo, Avenida Paulista, em meio ao corre-corre de pessoas, carros, coletivos, cercado pelos arranha-céus de concreto armado, caminho ao lado da minha imagem refletida nas enormes fachadas-vitrines, que se estendem ao longo da avenida. É a única imagem, em meio a tantas, que me é familiar.
A calçada mais parece uma passarela onde desfilam
uma variedade de formas e estilos, quase uma Babel. Nesse espaço estreito e
disputado, a vida segue ávida, intensa e apressada, mal se equilibra nos passos
descompassados dos transeuntes.
Automóveis roncando seus motores, motos disparando buzinas
ensurdecedoras, aumentando a sensação de caos que se instala por toda a
extensão da avenida. Os grandes e pesados coletivos, apinhados, com suas janelas
“panorâmicas”, revelam rostos de diferentes feições emoldurados pela mistura
tosca de aço e plástico, com seus olhares dispersos e indiferentes em meio à
paisagem dura e fria das construções ao largo.
Nos cruzamentos, as luzes dançam numa coreografia de três passos, vermelha, amarela e verde, semáforos que ditam as regras em meio ao caos. Sobre
o ébano do asfalto, o marfim das faixas de pedestres se destacam, é a ponte, a
ligação entre os dois extremos da avenida. No meio fio, ou nas ilhas centrais, esperando
a vez, pessoas olham para o outro lado da rua, como se ela fosse
intransponível, devido ao mar de veículos, até que o verde é a deixa, a esperança
para chegar do outro lado.
Abre-se um “clarão”, passos apressados, o tempo é
breve, feito onda, todos se lançam ao asfalto se encontram no meio da Avenida, se
misturam, pés, pernas, braços e olhares. A cena me faz lembrar daqueles
filmes de batalhas medievais, onde há duas colunas que ao sinal do comandante
correm para se duelarem. Quando percebo estou do outro lado. O vermelho acende
e o mar se fecha novamente, voltam os carros.
Desconcertantes essas pessoas que se
renovam a cada instante, entram e saem dos automóveis, dos onibus, dos
prédios, das passagens subterrâneas, elevadores, esquinas e becos, parece não
ter fim. Tantas pessoas com suas variações do viver. Fico a imaginar de
onde vêm e para onde vão.
Toda essa correria, essa comichão, traz a tona um
sentimento de vazio, pois os olhares são frios e desconhecidos, sem brilho, as
pessoas se esbarram e não se veem, parece que estão míopes. Descubro que sou apenas mais um na multidão.
Esbarro na solidão. A saudade aperta. Quero voltar e ter o olhar, carinhoso, brilhante, e principalmente, conhecido, a me ver chegar. Só assim saio desse estado de loucura urbana. O caminho é longo, sei. Mas logo estarei de volta ao aconchego do lar.
ecobueno