Manhã de domingo, primeiro dia de
inverno, o céu de um azul emudecedor, destoava da estação. No centro de São
Paulo a Virada Cultural fervia. Na Praça Júlio Prestes, o palco em frente ao
prédio da E.F. Sorocabana, estava pronto para receber mais um show.
Do alto da fachada do belo prédio
em estilo Francês do século XVI, contrastando com a arquitetura renascentista
da Pinacoteca, marcava meio dia em ponto, quando os primeiros acordes soaram. O
ex-Titãs, Nando Reis, sobe ao palco para entoar canções de amor, versos diretos
e metáforas enigmáticas.
No mesmo tom, da canção – “As coisas Tão Mais Lindas”, em que um
dos versos diz: Está em cima/ Com o céu e
o luar/ Horas, dias” – o Sol e a Lua se acotovelavam no céu; além de
assistirem davam um show particular. Sem muito rame- rame, Nado Reis vai enfileirando
seus hits, “Sou Dela”, “Segundo Sol”, “N”, “Relicário”, até abrir um parênteses
para dizer da canção feita para Cassia Eller, “All Star”, que cai muito bem a
céu aberto, pois o sol é uma estrela que brilha ao meio dia. Nada mais
metafórico.
“Luz Nos Olhos”, “A letra A”,
“Não Vou me Adaptar”, “Os Cegos do Castelo”, o show continua até nova pausa,
onde ele relata a história da composição da musica “Por Onde Andei”, “Amor eu sinto sua falta/ E a falta é morte
da esperança”, e aproveita para politizar um pouco. Terminou com “Marvin”, deixando um gostinho de quero mais. A
plateia cantou, dançou e pulou do inicio ao fim. Um show muito bom, que era para
ser ótimo se não fosse ausência da banda Os Infernais que da mais peso às canções.
Pegando carona nas metáforas, “Prefiro as pernas/ Que me movimentam”,
pois era o único meio de transporte possível na região central, sigo para outro
show - banda IRA! - no Teatro Municipal. Um dos mais belos cartões postais do
centro de São Paulo. Arquitetura inspirada nos traços Renascentista, Barroca e
Art Nouveau do sec. XVII. Só a visita ao Teatro já valeria o passeio.
Tão eclético como a
construção do Teatro, é a
diversidade da agenda de espetáculos. Não
poderia ser diferente na Virada Cultural. No palco onde se apresentam os clássicos
de musica, dança e peças teatrais, liderado por Nasi (vocais) e Edgar
Scandurra (guitarra e
vocais) os
remanescentes da formação original
do IRA!, entoam suas canções.
As letras diretas na voz rouca de Nasi embaladas
pelos rifs
de guitarra de Edgar Scandurra, mostram
a força do IRA!, banda referencia dos anos 80, que não perdeu sua essência. No palco
toda a ebulição dos hits como “Longe de Tudo”, “Tarde Vazia”, “Tolices” “Gritos na Multidão”,
“Mudança de Comportamento” (musica que dá nome ao álbum de 1985), “Ninguém
Precisa de Guerra”, entre outros, confirmam a qualidade de uma das melhores
bandas do rock nacional.
Show
acaba e o que fica é: Que “Já não tenho a mesma idade... /Essa vida é jogo rápido”
e “Estou sozinho com o tempo... /Solidão me deixe forte/ Talvez
resolva meus problemas”, “E Me Valeu o Dia/ Na Mente Fantasia”, então é hora de voltar e a
mudança de comportamento foi assistir ao IRA! Sentado nas poltronas do Teatro
Municipal, (nunca imaginei). Mas, valeu a overdose de rock nacional na
Virada Cultural 15!
ecobueno