Tem
dias em que tudo insiste em não seguir seu rumo. Os tropeços, as brigas
internas, as desilusões que, vira e mexe, voltam à memória; as contraposições
entre tese e (antí)tese que não chegam a uma síntese. Até as metáforas se tornam efêmeras e ofuscam
a realidade. Os momentos parecem se esvaírem por entre os dedos, feito finos
grãos de areia. Uma névoa tênue que aos poucos se adensa limitando o horizonte,
revelando a cor opaca da angustia, embaralhando as emoções.
Dias
em que, logo ao amanhecer, aquela sensação de desconforto e inquietação apertam
o peito estampando na face pálidos olhos de ressaca.
Sim,
é a sensação de sentimentos tacanhos! Mas o tempo, ah o tempo, senhor dos
momentos, não é célere, nem moroso, segue pacientemente e, a contento, mostra o
quanto é possível mudar. Inclusive a expressão do olhar.
E
nessa inquietação entre o ser e estar, no tempo, a bela canção de Bob Dylan ecoa
e ensina: a resposta pode estar no vento! Então, a brisa suave e inquietante invade
e dissipa a névoa mostrando a riqueza do horizonte.
Junto
com a brisa, um perfume inconfundível denuncia a sua chegada. E ao se aproximar,
um brilho sem igual, traz matizes de cores dissolvendo o breu. Olhos de ver espiam
muito além de um simples olhar. Fascina, arrebata, encanta, faz sorrir e
acreditar que as inquietações servem para valorizar a magia de começar um novo
dia, a cada amanhecer.
Então
as sensações de outrora se esvaem no tempo e transformam o momento. Isso só é possível no instante (piscar) do seu
olhar. Pupilas que inspiram cenários e vão além do tangível - tal qual Machado
de Assis descreveu em Dom Casmurro, metaforicamente, os olhares de Capitu, com
seu poder sedutor e transformador - modificando meu estado de espírito para chegar
ao final do dia com olhos de paisagem.
Ecobueno15
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