terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Padrões Sociais

A sociedade promove o consumo e instiga as pessoas a terem fantasias sobre os relacionamentos. Eles são vendidos como algo perfeito. Nessa lógica, as mulheres devem sempre ser lindas; os homens, musculosos; os beijos, sempre maravilhosos. Passam isso como um estilo de vida. Então, a mulher que absorve o conceito de bem-sucedida e arrogante precisa procurar um parceiro perfeito, à altura dessa imagem. Por sua vez, os homens também buscam mulheres perfeitas, que sempre dêem prazer a eles. Ambos têm expectativas inatingíveis. As pessoas ficam reféns de um conceito que não é delas, que não existe. A conclusão é a insatisfação. É como se a pessoa fosse estimulada permanentemente a querer outro, nem sempre melhor, mas outro. Assim como ela é incentivada a querer outro tênis, outra blusa, fazer outra viagem, etc.
Infelizmente vivemos nesse afã de ser e ter sempre o melhor e chagamos ao extremo de nos tornarmos “pessoas-objeto”, que na verdade são alusões de uma sociedade altamente consumista, como se fossemos marcas x ou y, de melhor ou pior qualidade. Com isso perde-se a característica única, singular que é a essência de “pessoa-humana” com seus erros e acertos, com suas dores e alegrias, defeitos e virtudes e com esse sentimento único, que é saber amar de forma simples, sem formulas ou rótulos.

Mesmo com essa enorme cruzada por parte dos meios de comunicação interferindo na vida das pessoas, impondo à sua maneira, que ela é esse eterno comercial, onde tudo tem que ser plástico, perfeito, sem defeitos, colorido e igual. Pois assim se ganha mais dinheiro (como dizia Cazuza). É preciso ter em mente que a vida não é um rascunho, já nascemos prontos, apenas vamos, ao longo do tempo, nos aprimorando e que, se um dia qualquer pretendermos passá-la a limpo, podemos descobrir que isso pode ser tarde demais.

Afinal de contas qual o significado do belo e feio nos relacionamentos? Descubra por si, não espere que te digam...
Ecobueno

sábado, 15 de dezembro de 2012

O Quebra Nozes

A noite típica de um verão paulistano, quente e abafada, nos convida a ir ao teatro, para assistir a um clássico universal da dança. Esse espetáculo que fecha com chave-de-ouro o ano cultural de 2012. Mesmo sendo a sua vigésima nona apresentação o Quebra Nozes, encanta e renova a cada apresentação, fazendo dela única.

A Cisne Negro Cia de Dança, com direção artística de Hulda e Dany Bittencourt, musica de Tchaikovsky, a história adaptada de um trecho do conto Nussknacker und Mausekoing – Quebra Nozes e o Rei dos Camundongos – de Hoffman, no Teatro Alpha, é um belo presente de Natal a um publico inteligente e sensível.

No apagar das luzes, abrem-se as cortinas, o palco se revela, a música reverbera e ecoa em cada canto da sala e adentra a alma. O espetáculo se inicia! É a história de uma menina que recebe um presente na noite de natal, um boneco quebra-nozes. Emocionada com seu novo presente, Clara dança contente. Mas seu irmão Fritz com inveja toma-lhe o boneco que se quebra. Seu padrinho, que havia dado o presente, vendo sua tristeza, conserta o boneco. A alegria volta. Ao terminar a festa, quando todos já dormiam, Clara com seu boneco se transporta para um mundo de fantasias e encantos.

A cada ato os bailarinos, o figurino, a iluminação e a coreografia, vão se alinhavando com a bela trilha sonora de Thaikovsky e a história vai num crescendo, se desenvolvendo e revelando a beleza que é viajar e conhecer um mundo de cores e possibilidades. Nessa viagem, várias danças são apresentadas: Espanhola, Árabe, Chinesa e a Valsa das Flores.

Mas não era tudo, ainda tinha os solos de dança da Fada Açucarada e o ápice do espetáculo, verdadeiro presente, o Pas-de-Deux. A perfeita sincronia entre o bailarino e a bailarina, é a força e a técnica que juntos transmitem a leveza dos corpos que parecem flutuar no palco.

É a mistura da musica, dança e a proposta de contar uma bela história, em que os bailarinos, através do corpo, ao abdicar do verbo, em seu processo de criação artística, entre tropeços e alumbramentos, nos transportam para um mundo de luzes e magia, que só a imaginação é capaz de nos levar. Luze e magia que neste caso, partem de closes em cabeças, ombros, braços, pernas e pés. Mecanismo que constroem a beleza e leva a transcender os limites.

Os bailarinos com sua técnica e empenho, vão coroando com beleza e brilho essa maneira diferente de transmitir os sentimentos, através de coreografias muito bem elaboradas, sem dizer uma só palavra. Em cada passo a superação é visível.

Essa linguagem abstrata é capaz de construir mundos, disseminar ideias, refletir sobre o que somos, sem se valer de uma só palavra. São aulas de inquietações diante dos erros e a felicidade de encontrar, enfim as possibilidades do corpo em uma coreografia bem elaborada que explicita o texto. Isso é a dança.

Ao termino do espetáculo, hora de fazer o caminho inverso, mas uma certeza nos acompanha, não a de ter ido assistir uma bela história, mas sim de que a magia e os sonhos levamos para toda a vida. Essa é a magia da transformação que só o palco é capaz de fazer.

Ecobueno12

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

De Natal a Natais


Nesta época, é mais do que comum o lugar comum (me perdoem o trocadilho), mas é assim mesmo. Entra ano, sai ano e o que era para ser Natal, torna-se meros natais. A expressão “renovar as esperanças”, ou “é tempo de paz”, já se transformaram em jargões ditos apenas para fixar o mais do mesmo.

As mensagens de boas festas, paz, fraternidade, contrastam com a realidade. Então me pergunto por que tais desejos não são feitos o ano todo, sem que seja necessário uma data específica para essas manifestações?

Essa data, o solstício que foi apropriado pela religião e pelo folclore, se tornou num momento paradoxal em que se discursa sobre bons sentimentos enquanto se consome em ritmo febril. E até mesmo os nacionalistas de plantão se calam diante desse contraste que é o “bom velhinho” que não tem a cara do nosso clima de mais de 30 graus nessa época do ano. Então me ponho a pensar em como a generosidade e o respeito, só para ficar nesses dois itens, andam em falta nos tempos atuais.

Somos seres sociáveis, e por isso, de certa forma sofremos a influência do meio, e nessa época nos esquecemos do racional, pois é tudo bonito, alegre e colorido. É mais fácil, como fizeram conosco, alimentar o imaginário infantil sem se dar conta de que tudo isso vai contra a corrente do que elas serão amanhã. O senso crítico incomoda? Estamos subestimando a inteligência desses seres curiosos e criativos, as crianças.

Cultivamos, com a desculpa de que é um dia de comemorações e fantasias, mas esquecemos que é impossível uma figura tão discrepante fazer o que ele faz em todos os lares, e no mesmo horário. E quem não pode ter essa fantasia concretizada por falta de condições ou pelo simples fato de que sua cultura ou religião não permitem, serão condenados? Onde está a fraternidade então? Desilusão!

Sim necessitamos de alguma fantasia, somos carne e pensamento, um não dissocia do outro, e do mesmo modo o Natal é ficar feliz em dar e receber presentes, é ver as crianças alegres com o que ganham, reunir a família (quem as tem) e pronto, sem místicas ou melancolias. Não é necessário ter essas figuras pitorescas para embalar nossos sonhos.

Perdi pai, mãe e tantos outros, sem contar a decepção pessoal que abalou minha confiança e levou parte da minha crença e fé, e apesar das frases consoladoras, “’É a vida” (não, é a morte mesmo), “Tudo vai ficar bem” (defina o que é “bem”), descobri que a dor ganha intervalos, mas a ausência fica. O vazio é o que mais dói.

Hoje, tudo isso só veio para reforçar em mim a certeza, do que resta e vale a pena, é ver o sorriso sincero estampado no rosto das crianças. Essa sim é a melhor maneira de encerrar o ano - ainda bem - como o fecho do capítulo de um livro que ainda não terminou - até quando conseguirei escrevê-lo? - e não essas festas e personagens com seus afagos sem nenhum sentimento, sem que nada nos acrescentem. Só fazem lembrar que o melhor dessa época é consumir, pois é dando que se recebe e nada mais. Se isso não ocorre o que resta é a melancolia de uma data vazia.

Ecobueno12




Q!

(Q!)
 Queria compor
Uma canção ou poesia
Enfim, algo como a flor
Sempre viva, mágica
Indefectível, colorida
A reinar no teu jardim

 Queria dispor
Uma frase, um texto
Entrelaçar palavras
Sem limites, sem teto
Infinito contexto
A altura do seu existir

 Queria sem pudor
Unificar os lábios
Esses, meus e os teus
Sem medos ou receios
Imbuir em seus desejos
A fragrância de um beijo

Queria, ah,como queria
Uma vez ao menos
Escrever o que expressaria
Sem meio nem fim
Isso tudo, mulher
Ardente em mim

 Queria ao menos uma vez
Um poema completo
Escrito com fervor
Simplesmente tocando
Intimamente teu ser
Feito ardorosa e bela canção

Ecobueno 2003


Um Poema escrito em 2003, ainda reverbera atual, porém não fui capaz e ele não teve o mesmo efeito que tem a flor. Pena!